Caminho da Liberdade (2010)

Volta de Peter Weir aos cinemas se perde em meio a um longo caminho de erros básicos, e por isso, surpreendentes.


Depois de uma pausa de sete anos, o renomado diretor australiano Peter Weir, indicado quatro vezes ao Oscar, volta às principais salas de cinema contando a história de quatro homens que, em 1941, atravessaram o Himalaia até a Índia, sobrevivendo uma incrível marcha de 6.500 km.
Inclusive por sair das mãos de Weir, nome por trás da obra-prima Show de Truman – O Show da Vida e de grandes produções como Sociedade dos Poetas Mortos e Mestre dos Mares, Caminho da Liberdade surpreende negativamente, ao introduzir em sua produção cenas arrastadas, praticamente extraindo sua ‘emoção’ apenas das paisagens deslumbrantes em que fora filmada grande parte do longa.

No filme, em 1940 pegos pelo regime stalinista, sete prisioneiros aproveitam-se de uma grande nevasca para fugir de Gulag Soviético. Dentre esses prisioneiros, encontramos o líder da fuga, o polonês Janusz (Jim Sturgess); o mais experiente, e por isso nomeado ‘O Senhor Smith’ (Ed Harris); o comediante Zoran (Dragos Bucur); além de Valka (Colin Farrel), um ladrão de marca maior, que entra em vantagem com os outros fugitivos por estar armado com uma pequena faca. Eles são homens livres agora e, quase certamente, homens mortos, já que a caminhada rumo à segurança desafia qualquer chance razoável de sucesso e a paisagem que eles devem cruzar é implacável.

Uma das maiores surpresas da qual me referi no começo, é o fato de como Caminho da Liberdade é pessimamente conduzido, principalmente quando observamos o roteiro elaborado pelo próprio diretor Peter Weir em parceria com Keith R. Clarke e a edição do excelente Lee Smith. Chega a ser assustador como alguém que montou produções como Batman – O Cavaleiro das Trevas e A Origem, esteja tão perdido em meio ao também pouco inspirado Peter Weir. Lee utiliza uma montagem abrupta, que em momentos cruciais, como por exemplo, a fuga da prisão e algumas mortes importantes, se tornam deveras confusas e pavorosas. Além disso, a dupla Edição/Roteiro não consegue dar ritmo aos cansativos 130 minutos de duração, deixando com que cenas teoricamente emocionantes, se tornem arrastadas e monótonas.
Sendo que quase todo filmado na Bulgária, no Marrocos e na Índia, Caminho da Liberdade tem de melhor seu incrível visual, onde tais paisagens exaustivas, desde as mais frias até as mais quentes, são tratadas de maneira entusiasmante pelo diretor de fotografia Russell Boyd (Eternamente Jovem) e também pela direção de arte de Kes Bonnet (Jogo Entre Ladrões) que consegue ambientar tais locações a época em que se passa o filme.

Externando um desgaste físico em seus personagens preocupante, muito em função da maquiagem ‘suja’, que inclusive recebeu uma indicação ao último Oscar, The Way Back parece se esquecer que um desgaste físico, não é suficiente para que nos envolvamos completamente com personagens unidimensionais. Jim Sturgess (Across the Universe), em momento algum consegue convencer de que a figura de líder no qual seu personagem ostenta, seja de imponência suficiente que possa, por exemplo, fazer com que Valka, um ladrão dos mais temidos dentro da prisão, vivido de maneira contida por Colin Farrel (Ondine), abaixe a cabeça praticamente sem nenhum questionamento ou embate. O mesmo acontece com o excelente Ed Harris (Uma Mente Brilhante), que sem saber o que fazer, praticamente entrega apenas seu rosto já desgastado pelo tempo (o ator já está com 60 anos) como único nuance de atuação. Ao apresentar personagens sem nenhuma profundidade emotiva, Caminho da Liberdade ainda tenta usar uma espécie de ‘Muleta de Profundidade’: A ótima Saoirse Ronan (Desejo e Reparação) é introduzida na história, ao que parece por preguiça dos roteiristas em elaborar melhor um convívio entre os personagens principais, apenas com o intuito de distribuir entre eles informações até então guardadas a sete chaves, como relacionamentos, vivências e paternidade, o que na verdade, é apenas um patético discurso direto para o público.

Inexplicavelmente sem uma trilha sonora efusiva, que aparece em no máximo três momentos, Caminho da Liberdade apresenta erros básicos como a falta de ritmo e dramaticidade nula, se tornando uma produção surpreendentemente equivocada. O longa poderia se tornar no mínimo eficiente se Peter Weir não tivesse se deslumbrando tanto pelas incríveis paisagens, para que então deixasse de lado esses intermináveis ambientes…. Mas vejam só, a produtora do filme e nada mais nada menos que a National Geographic Films (??) o que por si só, já explica boa parte do foco da película, mas que convenhamos, ao ter nomes como Peter Weir, Saoirse Ronan, Lee Smith, Ed Harris e Colin Farrel, é um desperdício descomunal.

Nota: 4,0

por Filipe Ferraz

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